domingo, 31 de julho de 2011

Como recrutar, formar e reter talentos?

Por José María Gasalla

O Brasil é um lugar espetacular. Constitui-se hoje em laboratório vivo para todos aqueles que realizam estudos no campo de gestão e negócios. Tudo aqui acontece rapidamente. Os processos de inovação geram empresas singulares e alteram as já existentes. Isso é muito bom porque demonstra a vitalidade da economia e um desejo coletivo de aperfeiçoamento. No entanto, há também certa imprevisibilidade no ar.

Algumas organizações ambiciosas demais anunciam mais do que realmente podem oferecer. Outras, especialmente na área de serviços, geram impactos positivos, mas não são capazes de manter padrões de rapidez e qualidade. Com isso, pode-se dizer que muitas companhias produzem frustração. É a loja que demora um mês para entregar um colchão, é a operadora de TV a cabo que leva uma semana para enviar um técnico, é o restaurante que retira do cardápio seu prato predileto, é a empresa de telefonia que não consegue atender à demanda de reclamações.

Mas por que isso ocorre? A razão é simples: as empresas são feitas, sobretudo, de pessoas. São elas que têm a genialidade inventiva. São elas que aprimoram modelos. E são elas que sabem como agradar e cativar um cliente. Quando uma empresa despede-se de um bom colaborador perde um pouco de seu carisma e da capacidade de encantar.

Recentemente acompanhei uma amiga a um super pet shop. Lá eles vendem e fazem de tudo. Há ossos de borracha, comida para peixes e serviços especiais para lavagem e tosa de cães e gatos. Num determinado momento, observei a entrada de uma elegante senhora, com um labrador meio amalucado, impaciente, aparentemente disposto a fugir e destruir toda a loja.

Ao chegar ao "salão de beleza" canino, ela levantou o dedinho indicador e logo perguntou por um funcionário específico: "Cadê aquele carinha?" Ela buscava um certo Roberto, rapazinho novo, o único capaz de aquietar seu cão e efetuar o trabalho de higiene necessário. Logo foi informada que o profissional tinha deixado a empresa e fora trabalhar num concorrente do outro lado da cidade.

Neste momento estampou-se uma grande decepção no semblante da senhora. Chateada e, repetindo baixinho o nome do outro pet shop, arrastou seu cachorro para o estacionamento. Acredito que partiu em busca de Roberto. Esse episódio me remeteu a uma questão importantíssima no cenário de hipercompetitividade: como recrutar, formar e reter talentos?

De modo convencional as empresas apostam em bons salários, bonificações, pacotes de benefícios, cursos de formação, viagens internacionais e até promoções. Essas ações, no entanto, nem sempre são capazes de aquietar as almas especiais que distinguem e credenciam a companhia no mercado. Deparamo-nos com um número crescente de divórcios no Brasil.

O mesmo ocorre na relação entre organizações e profissionais. Os talentosos estão constantemente olhando pela janela, flertando com a mudança e buscando novas oportunidades. Com o apagão de mão de obra no país, o assédio tornou-se ainda mais intenso, de modo que se torna particularmente difícil segurar um bom profissional. Porém, há um elemento intangível que deve ser considerado na construção da fidelidade dos colaboradores. Trata-se da confiança. Dificilmente alguém procura deixar uma empresa se confia plenamente em seus valores, em seus líderes e em sua capacidade de premiar o talento e a dedicação. Quem se sente valorizado, ouvido, compreendido e (por que não?) amado, tende a manter a parceria e nela investir seus esforços.

Nesse particular é preciso destacar um dos elementos constituintes do modelo de Gestão por Confiança. Trata-se da consistência. Refiro-me aqui ao alinhamento, ao longo do tempo, de comportamentos e de valores. Os melhores colaboradores percebem quando a empresa tem um norte estratégico, um padrão humano de conduta interna e um projeto sólido de atendimento das demandas do mercado. Se as coisas boas são feitas sempre, os melhores profissionais logo perceberão esse diferencial de virtude.

A atitude das lideranças também é fundamental à geração da confiança. Observam-se coerentemente as práticas inovadoras, criam-se caminhos para o aperfeiçoamento contínuo e se têm preocupação genuína com as pessoas, farão o melhor endomarketing possível. Esses comportamentos - indicadores da solidez - são, muitas vezes, mais importantes que salário e benefícios. Quer segurar o seu Roberto? Converse mais com ele. Mostre que a empresa conta com ele e valoriza sua capacidade de lidar com os labradores inquietos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário