quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Agências de emprego incentivam formalidade, mas estimulam rotatividade

Estudo realizado na USP aponta que empresas do setor ajudam formalidade, mas geram alto índice de troca de empregos

InfoMoney

As agências privadas de trabalho – envolvidas com a seleção de profissionais temporários e terceirizados – são importantes para a inserção de trabalhadores no mercado formal, mas também estão vinculadas a um alto índice de rotatividade de empregados, é o que aponta um estudo desenvolvido pela FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da USP (Universidade de São Paulo). O trabalho foi desenvolvido pelo pesquisador Jonas Bicev, e indica que 60% das pessoas que recorrem a essas agências ficam no mercado formal por dez anos, mas têm uma média de oito vínculos neste período. O estudo usa dados do Ministério do Trabalho entre 1998 e 2007.

A avaliação do pesquisador é que os empregos obtidos por meio dessas agências têm um perfil que demanda menos capacitação técnica, facilitando a reposição de profissionais. “Grande parte das vagas é para vendas, comércio e telemarketing, que não demandam investimentos técnicos e, por isso, são vagas de alta rotatividade e com grande oferta de mão de obra disponível. Alguns acabam consolidando seus postos de trabalho, e migram para outros setores, como a indústria, contribuindo para o mercado formal”, analisa Bicev.

O diretor de Negócios da Jobcenter, empresa de seleção de terceirizados e temporários, Alexandre Leite Lopes, ressalta que é necessário associar a alta rotatividade à restrição imposta pela legislação do trabalho temporário no Brasil. “Diferentemente das leis do restante do mundo, no Brasil só se permite o contrato temporário por 90 dias, prorrogáveis por outros 90. Não vejo o indicador (de oito empregos em dez anos) como ruim, é natural, mas penso que a análise do trabalho terceirizado deve ser feita de forma dissociada do temporário”, opina. Lopes lembra que os picos de oferta de trabalho ainda ocorrem em datas sazonais, que estimulam o comércio, como Páscoa, Natal e Dia das Mães.

Perfil


O estudo também indicou que os empregos temporários ainda são maioria entre os ofertados pelas agências, mas sua proporção diminuiu nos últimos anos. Em 1998, a atividade nesta modalidade representava 71,8% do oferecido pelas agências, enquanto em 2007, o trabalho temporário chegou a 60,7%.

Para o pesquisador, o estudo aponta, em curto prazo, tendência de continuidade deste cenário, já que o mercado brasileiro continua aquecido pela aceleração da economia, e a capacitação dos trabalhadores não segue o mesmo ritmo. “Este tipo de mão de obra ainda é bastante grande no País. A tendência é que haja uma evolução e, com o desenvolvimento do mercado e o incentivo à capacitação, haja uma preferência por profissionais mais qualificados, mas, em geral, essas vagas devem continuar tendo grande oferta. A dificuldade fica por conta de perfis mais técnicos e de maior exigência”, detalha.

Lopes, da Jobcenter, acrescenta que o aquecimento econômico trouxe duas consequências diretas para o setor de recrutamento – a primeira, mais conhecida, é o próprio deficit de trabalhadores em algumas áreas. “Nas áreas contábil, de informática, construção civil e tecnológica, como um todo, sentimos dificuldade no recrutamento. São setores em que normalmente já é difícil encontrar profissionais, e no caso de trabalhos temporários, a situação é ainda mais complicada”. A segunda consequência é justamente a geradora do alto índice de rotatividade, detectado pelo estudo de Bicev. “Antes, grande parte das classes D e E buscava essas vagas, que eram mais facilmente preenchidas. Hoje, com a oferta maior decorrente do aquecimento econômico, uma vaga que oferece R$ 10 a mais pode motivar a troca de trabalho, e isso estimula baixos índices de permanência em alguns empregos”, explica o profissional.
Segundo o estudo, na média, o trabalhador que recorre às agências de emprego é jovem e de escolaridade intermediária, com formação entre Ensino Fundamental incompleto e Médio completo. No total, o percentual de cadastrados nas agências com escolaridade nesta faixa é de 60%. Enquanto os trabalhadores cadastrados que tinham Ensino Superior chegavam a 2,5% em 1998, em 2007 esse número subiu para 4,7%. A maior parte dos trabalhadores (73%) que procura as agências privadas de emprego já tem pelo menos uma experiência anterior no mercado, mesmo com o perfil jovem. Os que buscam as agências para ter o seu primeiro emprego somam 6%. Na avaliação de faixa etária, pelo menos seis em cada dez cadastrados têm entre 20 e 29 anos.

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