Estudo realizado na USP aponta que empresas do setor ajudam formalidade, mas geram alto índice de troca de empregos
InfoMoneyAs agências privadas de trabalho – envolvidas com a seleção de profissionais temporários e terceirizados – são importantes para a inserção de trabalhadores no mercado formal, mas também estão vinculadas a um alto índice de rotatividade de empregados, é o que aponta um estudo desenvolvido pela FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da USP (Universidade de São Paulo). O trabalho foi desenvolvido pelo pesquisador Jonas Bicev, e indica que 60% das pessoas que recorrem a essas agências ficam no mercado formal por dez anos, mas têm uma média de oito vínculos neste período. O estudo usa dados do Ministério do Trabalho entre 1998 e 2007.
A avaliação do pesquisador é que os empregos obtidos por meio dessas agências têm um perfil que demanda menos capacitação técnica, facilitando a reposição de profissionais. “Grande parte das vagas é para vendas, comércio e telemarketing, que não demandam investimentos técnicos e, por isso, são vagas de alta rotatividade e com grande oferta de mão de obra disponível. Alguns acabam consolidando seus postos de trabalho, e migram para outros setores, como a indústria, contribuindo para o mercado formal”, analisa Bicev.
O diretor de Negócios da Jobcenter, empresa de seleção de terceirizados e temporários, Alexandre Leite Lopes, ressalta que é necessário associar a alta rotatividade à restrição imposta pela legislação do trabalho temporário no Brasil. “Diferentemente das leis do restante do mundo, no Brasil só se permite o contrato temporário por 90 dias, prorrogáveis por outros 90. Não vejo o indicador (de oito empregos em dez anos) como ruim, é natural, mas penso que a análise do trabalho terceirizado deve ser feita de forma dissociada do temporário”, opina. Lopes lembra que os picos de oferta de trabalho ainda ocorrem em datas sazonais, que estimulam o comércio, como Páscoa, Natal e Dia das Mães.
Perfil
O estudo também indicou que os empregos temporários ainda são maioria entre os ofertados pelas agências, mas sua proporção diminuiu nos últimos anos. Em 1998, a atividade nesta modalidade representava 71,8% do oferecido pelas agências, enquanto em 2007, o trabalho temporário chegou a 60,7%.
Para o pesquisador, o estudo aponta, em curto prazo, tendência de continuidade deste cenário, já que o mercado brasileiro continua aquecido pela aceleração da economia, e a capacitação dos trabalhadores não segue o mesmo ritmo. “Este tipo de mão de obra ainda é bastante grande no País. A tendência é que haja uma evolução e, com o desenvolvimento do mercado e o incentivo à capacitação, haja uma preferência por profissionais mais qualificados, mas, em geral, essas vagas devem continuar tendo grande oferta. A dificuldade fica por conta de perfis mais técnicos e de maior exigência”, detalha.
Lopes, da Jobcenter, acrescenta que o aquecimento econômico trouxe duas consequências diretas para o setor de recrutamento – a primeira, mais conhecida, é o próprio deficit de trabalhadores em algumas áreas. “Nas áreas contábil, de informática, construção civil e tecnológica, como um todo, sentimos dificuldade no recrutamento. São setores em que normalmente já é difícil encontrar profissionais, e no caso de trabalhos temporários, a situação é ainda mais complicada”. A segunda consequência é justamente a geradora do alto índice de rotatividade, detectado pelo estudo de Bicev. “Antes, grande parte das classes D e E buscava essas vagas, que eram mais facilmente preenchidas. Hoje, com a oferta maior decorrente do aquecimento econômico, uma vaga que oferece R$ 10 a mais pode motivar a troca de trabalho, e isso estimula baixos índices de permanência em alguns empregos”, explica o profissional.
Segundo o estudo, na média, o trabalhador que recorre às agências de emprego é jovem e de escolaridade intermediária, com formação entre Ensino Fundamental incompleto e Médio completo. No total, o percentual de cadastrados nas agências com escolaridade nesta faixa é de 60%. Enquanto os trabalhadores cadastrados que tinham Ensino Superior chegavam a 2,5% em 1998, em 2007 esse número subiu para 4,7%. A maior parte dos trabalhadores (73%) que procura as agências privadas de emprego já tem pelo menos uma experiência anterior no mercado, mesmo com o perfil jovem. Os que buscam as agências para ter o seu primeiro emprego somam 6%. Na avaliação de faixa etária, pelo menos seis em cada dez cadastrados têm entre 20 e 29 anos.
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